sexta-feira, 29 de abril de 2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

20

Eu? Eu não sei nada. Não sei o que pensar. Não sei o que se passa. Não sei o que me faz sentir.
Pensei em guardar-te numa caixa e esconder-te o melhor que fosse possível. Mas isso só resulta se for tudo dentro da caixa, e há coisas que saltam para fora dela.
Antes, mesmo que não soubesse o que se passava, sabia o passado. Agora, nem o passado acho que sei. Talvez tenha percebido tudo mal.
Quero, acima de tudo, saber. Saber o que se passa. Se vale a pena deitar fora a caixa. Tenho medo de a deitar fora e descobrir que, no fim de contas, só estavas a ganhar coragem.
Uma epifania? Uma clarividência? Um gesto? Só preciso de uma pista. Algo que me diga que devo guardar a caixa, ou deitá-la para o fundo do mar. Porque eu, eu não sei nada.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

19

Perguntaram-me porque sou a única pessoa que não rejubila quando volta a casa. Perguntaram-me porque me preocupo tanto com a maneira como me visto quando não estou em Coimbra.

Para começar, eu rejubilo sempre que vou para casa. A minha casa é em Coimbra, e sempre que volto sou inundada por uma felicidade inexplicável.
Por fim, no local onde os meus pais vivem, sou julgada pela maneira como me visto, como falo, pelo que faço. Em Coimbra não. Em Coimbra sei que gostam de mim pelo que sou. Não querem saber se estou de pijama em plena rua. Se hoje uso sapatos de saltos altos e amanhã uso sapatilhas. Não é por isso que gostam menos de mim.

Sim. Eu rejubilo de cada vez que volto para casa. Eu não me importo com o que digo, faço ou visto em Coimbra. Lá não me julgam pelas roupas que ostento. Lá preocuparam-se em conhecer-me. E eu mal posso esperar por voltar para casa.

sábado, 9 de abril de 2011

18

Vou-te guardar numa caixa. Nunca te odiei, e não te quero odiar.
A nossa história nem chegou a começar. Fomos apenas frases soltas de um livro que podia ter sido escrito.
Não tens culpa dos meus sentimentos. E que parva fui por te ter culpado.
Não te quero odiar. Vou guardar os nossos momentos dispersos numa caixa. Pode ser que um dia haja "inspiração" suficiente para escrever um livro, o nosso livro. Ou talvez esteja destinado a nunca ser escrito.
Não te posso culpar. Também não me posso culpar a mim. Não se controlam os sentimentos.
Vou-te guardar numa caixa. Eu não te quero odiar.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

17

Há palavras que servem como chapadas. E outras que doem mais que chapadas. Talvez fosse o que eu precisasse. Não se dá conversa a ébrios. Dizem sempre o que não querem, e muitas vezes nem se lembram de o fazer.
Há palavras que doem mais que chapadas. Pode ser que eu finalmente aprenda a lição.


[corrigido a 08/04/2011]

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Página 75

Telefonava-lhe a meio da noite. Não importava a hora, precisava. Ela acordava sobressaltada. Ele dizia: «Sou eu.» Ela dizia: «És tu?» fingindo espanto.
Ele dizia disparates. Ela ficava a ouvir.

Isto durou alguns meses. Até ele acabar o romance que estava a escrever. Depois deixou de telefonar.
in Viver todos os dias cansa por Pedro Paixão

Tu fizeste igual. Só que não eras escritor. Será que também leste este livro?