sábado, 21 de maio de 2011

25

Às vezes, tudo o que resta é escrever. Escrever até se gastarem as palavras. E aí, esperar. Pode ser que depois das palavras gastas, o coração acalme o suficiente para explicar à cabeça o que se passa de errado com ele.

24

Tenho um problema com finais. Nas histórias, por exemplo, nunca as consigo acabar. Quando escrevo um texto, não o acabo, volto ao início.
As coisas são cíclicas, a vida é cíclica. Não existe um verdadeiro fim. Vai sempre existir um ou outro pormenor que faz a história tomar um rumo diferente, tornando-a inacabável. A morte é o fim. Mas talvez nem isso seja um fim. Talvez seja apenas uma outra etapa com mais histórias encadeadas umas nas outras.
Talvez o que dizem seja verdade, o fim de uma coisa é o princípio de outra. Esse recomeço, faz com que não seja um verdadeiro fim, apenas uma nova história encadeada com a anterior. Uma nova história à espera de ser escrita, e à espera do seu final que não é um verdadeiro fim.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

23

Ninguém imagina a história pessoal de uma pessoa quando olha para ela.
Não pensamos no que aquela pessoa já viveu, nas situações a que sobreviveu, nas adversidades que a vida lhe impôs.
Aquela rapariga animada e divertida pode ter sofrido uma tentativa de violação. Aquele rapaz extrovertido e engraçado pode ter quase perdido a vida. Uma outra rapariga pode ter visto um dos melhores amigos a tentar morrer pelas suas próprias mãos, e pior que isso, a consegui-lo. Um outro rapaz pode ter visto a namorada ser vítima mortal de uma doença. Ou ainda uma outra rapariga pode ter sofrido de abusos de um familiar próximo. Ou um outro rapaz ter sentido necessidade de se prostituir. Nós não imaginamos o que cada um de nós já viveu.
É esse o maior problema do egoísmo humano. Só pensamos em nós, apenas os nossos problemas importam. Esquecemo-nos de ouvir os outros.
Alguns, para compensar este egoísmo, tornam-se demasiado altruístas. Querem que nós possamos desabafar com eles quando mais ninguém nos ouve. Mas esquecem-se de retribuir. Se nos apoiamos em alguém, gostamos que esse alguém também sinta confiança para falar connosco.
Pessoalmente, tenho dificuldade em falar sobre a minha vida pessoal, prefiro ouvir. Mas se alguém me oculta o que se passa consigo, não confia em mim para me contar o que se passa de errado, eu tenho tendência a ocultar ainda mais o que sinto ou vivi.
O problema dos preconceitos e pré-julgamentos é esse. Não pensamos na história pessoal do outro. Talvez, se fossemos mais atentos e sensíveis a quem nos rodeia, não excluiríamos tanto. Não agíamos ou falávamos sem pensar.
Ninguém pensa na história de vida de uma pessoa quando olha para ela.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

22

Há coisas que acontecem por acaso. Nós os quatro foi um mero acaso que o destino juntou. Quando vim para Coimbra não pensei encontrar pessoas que me dissessem tanto. É aquele grupo em que eu todos os dias penso e quero estar na companhia. E mesmo quando está apenas uma pessoa exterior ao grupo connosco, toda a dinâmica e maneira de estar dos quatro se altera.
Sentia a nossa falta. Só nós os quatro. Conseguimos passar horas a fazer coisa nenhuma e mesmo assim dizer que foi um tempo bem passado. Nunca me sinto julgada junto deles. Nunca me sinto desprotegida com eles.
Já tinha saudades nossas.

[reeditado: 3 de Maio de 2011]